A Lua não veio

gc-cecilia-vr-1              Foto: Gane Coloda

 

A lua não veio, mamãe.

Fim de tarde, o céu ainda claro, a primavera a suplantar o inverno. Como explicar?

A lua vai chegar mais tarde, com a noite e as brilha brilhas.

Daqui a pouco minhas respostas não serão convincentes. Seus porquês virão em série, como testes de revista a provar que eu estudei o suficiente para um dia, entre outras realidades, ser sua mãe.

Como o Sebastião daquela música, você me perguntará porque iremos viajar no verão.

E eu viajarei na Wikipédia, lerei novamente os clássicos, estudarei o céu e solstícios, a biologia marinha, o fitoplanctum, Marx, Lenin e Lenine. Mesmo assim eu não serei capaz de lhe dar todas as respostas.

É a tal incompletude humana, que nos move a sermos um pouco melhores hoje do que ontem. Por sorte o ensinar não se resume às explicações, envolve sobretudo a elucubração e a transformação do que está sendo discutido.

Meus pais, por exemplo, ensinaram-me a cultivar uma horta de mãos sujas. A bibliografia nem sempre importa.

O calendário já está ansioso porque um dia você vai descobrir que também me educa, mesmo que eu tenha nascido trinta e cinco anos antes, mesmo que eu tenha sido sua casa por um tempo.

Todo filho, em algum momento, percebe que seus pais são apenas luas em órbita, ora imponentes, ora minguantes. Cheios ou incompletos. Sábios ou inseguros. Assim como o móbile de sóis amarelos em seu berço, que você chama de “Céu da Cecília”, estamos todos dançando, sujeitos às mudanças de estação e às aleatoriedades do universo.

Escrito em agosto de 2016.

{Cecília tinha quase dois anos quando começou a procurar no céu a Lua, as estrelas – brilha brilhas – e o sol. Enquanto ela segue a descobrir os astros e as diferenças entre o dia e a noite, cientistas realizam suas descobertas espaciais. Em 2016 foram revelados nove planetas fora do sistema solar que poderiam apresentar condições para a vida.}

 

Publicidade